Um magnifico dia de sol numa praia deserta o nativo se
aproxima e me entrega uma flor. Ela veio da planta do amor Jauareté-Taiá na
linguagem indígena. Ela tem o poder de fazer a pessoa sair por aí construindo
poesias e escrevendo sobre sentimentos alheios. Você não a encontrará
facilmente. Da flor brota o fruto que de repente pode muito bem vir em forma de
poemas.
I
OLHOS E CACHOEIRAS
De seus olhos vertem cachoeiras
Estrelas e sonhos irreais
Por isso
escrevo
Para que eu não me esqueça jamais
Procurei milhares de palavras no dicionário
Encontrei algumas
Que pudessem expressar esse momento
Começo a falar de nuvens e fumaças
Construir no firmamento o país dos sonhos
Onde vejo imagens confusas dos meus pesadelos
Partículas de substancias impalpáveis
Manifestas em cascatas d’água
Suspensas no ar
Irrompem a linha de defesa
Tornando imprevisíveis
A fantasia e a variedade da vida
De seus olhos vertem cachoeiras
Não sei se é real ou criação furtiva de minha imaginação iludida
Mas eu vi
Agora resta-me folego para mais algumas poucas palavras
Todo amor é excepcional
Aos sentidos de quem ama
Essa
beleza vinha de uma força infinita que pulsava do seu íntimo. Longe de ser
padronizada era especial. Uma beleza que mexia com o psicoplasma tornando a
pessoa capaz de observar e absorver com maior intensidade as sensações,
pensamentos e emoções além de produzir alterações profundas na percepção de
quem a contemplasse. Seu encanto impulsionava o acesso a janelas da mente nunca
antes imaginadas(...) junto a essa beleza até a eternidade parecia ter um fim
tão rápido passava o tempo. Sua ausência fazia um minuto parecer o
infinito(...)
II
Chegou...
ficou comigo... foi embora. A felicidade nunca!
Tudo é
muito rápido nessa história.
Envolve num
abraço da saudade esvai-se a bruma da solidão. Meia noite. A lua iluminava o
seu corpo inteiro. As estrelas pequeninas, pingos de prata, flores distintas de
um jardim misterioso lá de cima, observando tudo. Atravessa a ponte. Tacou-lhe
um beijo na boca, um demorado beijo. Tempestade cerebral. Tremor de nervos.
Beijo com
furor. O corpo estremece parecia dissolver-se em seus braços.
III
Foge a fértil imaginação desse contador da
história qual o movimento das células, a energia dissipada e que forças teriam
sido desenvolvidas durante esse beijo. Qual o movimento das línguas?
Se tocaram?
Houve mordida nos lábios?
Impossível descrever com precisão o movimento
invisível diantino dos corpos que se tocam nesse beijo profundo. Deu-lhe um
beijo na boca e disse:
-Sente essa brisa, sente.
Depois do beijo, disse novamente:
-E agora?
-O que vamos fazer com isso?
Voltaram a se olhar a malícia começa a
transparecer em seus quatro olhinhos lascivos. No dia seguinte escreveu-lhe um
poema:
IV
A paixão
O amor
O tesão
Explode
em células ardentes
Contagia
o universo
Toma
conta do infinito
Manifesta
em dois corpos vulcânicos
Que se
perguntam:
-O que
vamos fazer com isso???
V
Agora deixa eu te contar o início da história:
Fuma o seu cigarro,
tenta, em vão
abrir uma porta
em sua vida vã.
Acende seu narguilé e fala das noites mal
dormidas regadas a álcool e ao sofrimento da vida.
No primeiro dia não viu nem um brilho
fulgurante que irradia o universo. Notou na verdade, uma estrela bem pequena,
dessas que quando apagam ninguém diz –Que pena!
Pareceu-lhe um brilhante sozinho que ninguém
olha para ele, com uma luz bem pequeninha que cabe na casa de um botão.
Isso comprova que a beleza é muito relativa e
que no final das contas todo mundo é os dois. É beleza e é feiura. Por uma
compreensão subjetiva de nossa mente e interesses muito particulares. Qualquer
pessoa, de tradicional modelo ou miss ao nosso vizinho da quebrada ou do
condomínio. Ninguém é bela e ninguém é feio a todo momento...é um processo em
que a beleza se faz feiura e vice-versa. Por convenções pré-estabelecidas,
preconceituosas, na sociedade. A beleza para uma população é fealdade para
outra e tudo isso é extremamente relativo.
MUSA
Musa da loucura
Musa da paixão
M`usa e abusa
Pois para todo sempre
Alguém deixará de ser
musa.
Como era bom ouvir-lhe falar. Fazia qualquer
assunto ficar interessante aquela maneira de pensar e falar sobre as coisas.
Dizia tudo de uma forma muito especial.
Tinha um esforço gigante. Atitude e potencial
para “mover montanhas”
O conhecimento dos segredos humano faz-lhe ter
atitudes que rapidamente atraem o mundo para si.
Ninguém conhece os segredos humanos senão não
seriam “segredos”.
Surge aí uma outra história romântica recheada de
poesias. Afinal a poesia é a máxima expressão do romance e quantos poemas
belíssimos foram produzidos a partir do amor?
VI
A PAIXÃO E A POESIA
Para a poesia
A paixão não é problema
Mesmo que dê tudo
errado
Ainda assim
Ela pode
Te deixar um poema!!!
Após essa explosão do amor a confiança na paixão se instala. O tempo, as
regras e convenções buscam engessar os sentimentos e a relação não permite mais
uma aproximação tão intima.
A distância passa a ser resguardada.
Sofrem por esse distanciamento e tem na poesia o único refúgio.
Preferiam que não se amassem.
ALMA
A minha alma
foi comida por você
engravidou de poesias
meses depois
o rebento
são esses versos
que te apresento.
A alma dilacerada por um amor que faz da distância um
sofrer e o prazer passa a aflorar por caminhos não convencionais da escrita.
Pode-se discutir, muito bem, a relação entre o amor e
o desejo e entre o prazer e o gozo, mas não pode ser mais sábio que a
realidade.
O real é sempre mais complexo que o esquema teórico.
VII
PAIXÃOZINHA
Paixõezinhas
São aquelas que morrem cedo
Antes de crescerem
Deixam suas pegadas na arte e na poesia
E sempre depois dela vem uma outra
De tamanho indefinido.
A paixão se
mistura ao amor e esse se liga ao desejo e para o senso comum não é possível
distinguir amor, paixão e desejo.
Simplesmente
por palavras não se pode ser feliz.
Sentimentos
e palavras se entrecruzam tramando a historicidade e se retroalimentando.
XADREZ DA VIDA
Antes do xeque mate
A jogada mais difícil é comer a rainha
O peão não dispõe de
bispos, torres, cavalos... e muito menos do reluzente ouro que ornamenta a
coroa de um rei envaidecido.
Que lógica imbecil:
Comer a rainha,
A partida ainda nem começou.
Comer a rainha num
tabuleiro cheio de cavalos e jegues psicológicos reais e irreais que a protegem
tornando-a inatacável?
No seu mundo careta e agonizante
o mais difícil é comer a rainha.
Mas qual seria a graça
dele?
Toda a complexidade do tabuleiro natural?
Qual o sentido da vida se ela não permitisse, um dia, que rainhas e peões
andassem livremente?
Antes do xeque mate
A jogada mais difícil é comer a
rainha
No tabuleiro pré definido e viciado da vida.
Atenção!!!
Não seja comido pelos demônios,
que disputam, com ardor e sem cansaço, a grande partida do tabuleiro vital.
Em seu castelo imaginário.
FINAL
Imaginei
essa história. Vi nela uma intenção, um desejo. Contrasta com a outra, do real,
tão cheia de contradições. Ela precisa se transformar num fato consumado.
Preciso viver em paz.
Domingo
oito horas da manhã. Olha para um lado. Olha para o outro lado. Ninguém.
Tudo não
passou de um sonho manifesto em versos. Sonhos que não saem de sua cabeça.
Sonhos que
também não saiam de minha cabeça e agora vão-se embora no papel.
Ele com
ele, ela com ela, ele com ela, uma aos outros, outras ao outro e umas a
umas...amemo-nos, amem.
Sigam
navegando em seus barquinhos das ilusões, da realidade e das desilusões...
UM AMOR
Um amor, uma paixão
Desencontrados
Que coleciona nãos
Uma paixão no limbo
Entre a vida e a morte
Que boia no mundo
Sem norte
Se não inspirar um poema
Não vale mais a pena.
VIII
Nunca mais
a simplicidade e o arrebatamento do poema. Nunca mais poesias rimando dor com
amor. Agora estou pensando o que fazer com essa planta, Jauareté-Taíá. Suas
flores, seus frutos e tudo o mais que brotar da sua fertilidade. Misturar a
poesia com o conto. Descrever personagens perfeitos. No final somente o ponto.
E isso já
basta.