JAUARETÉ-TAIÁ
(Autor: José Soares)
(Autor: José Soares)
Um magnifico dia de sol numa praia deserta o nativo se
aproxima e me entrega uma flor. Ela veio da planta do amor Jauareté-Taiá na
linguagem indígena. Ela tem o poder de fazer a pessoa sair por aí construindo
poesias e escrevendo sobre sentimentos alheios. Você não a encontrará
facilmente. Da flor brota o fruto que de repente pode muito bem vir em forma de
poemas.
I
OLHOS E CACHOEIRAS
De seus olhos vertem cachoeiras
Estrelas e sonhos irreais
Por isso escrevo
Para que eu não me esqueça jamais
Estrelas e sonhos irreais
Por isso escrevo
Para que eu não me esqueça jamais
Procurei milhares de palavras no dicionário
Encontrei algumas
Que pudessem expressar esse momento
Começo a falar de nuvens e fumaças
Construir no firmamento o país dos sonhos
Onde vejo imagens confusas dos meus pesadelos
Encontrei algumas
Que pudessem expressar esse momento
Começo a falar de nuvens e fumaças
Construir no firmamento o país dos sonhos
Onde vejo imagens confusas dos meus pesadelos
Partículas de substancias impalpáveis
Manifestas em cascatas d’água
Suspensas no ar
Irrompem a linha de defesa
Tornando imprevisíveis
A fantasia e a variedade da vida
Manifestas em cascatas d’água
Suspensas no ar
Irrompem a linha de defesa
Tornando imprevisíveis
A fantasia e a variedade da vida
De seus olhos vertem cachoeiras
Não sei se é real ou criação furtiva de minha imaginação iludida
Não sei se é real ou criação furtiva de minha imaginação iludida
Mas eu vi
Agora resta-me folego para mais algumas poucas palavras
Todo amor é excepcional
Aos sentidos de quem ama
Aos sentidos de quem ama
Essa
beleza vinha de uma força infinita que pulsava do seu íntimo. Longe de ser
padronizada era especial. Uma beleza que mexia com o psicoplasma tornando a
pessoa capaz de observar e absorver com maior intensidade as sensações,
pensamentos e emoções além de produzir alterações profundas na percepção de
quem a contemplasse. Seu encanto impulsionava o acesso a janelas da mente nunca
antes imaginadas(...) junto a essa beleza até a eternidade parecia ter um fim
tão rápido passava o tempo. Sua ausência fazia um minuto parecer o
infinito(...)
II
Chegou...
ficou comigo... foi embora. A felicidade nunca!
Tudo é
muito rápido nessa história.
Envolve num
abraço da saudade esvai-se a bruma da solidão. Meia noite. A lua iluminava o
seu corpo inteiro. As estrelas pequeninas, pingos de prata, flores distintas de
um jardim misterioso lá de cima, observando tudo. Atravessa a ponte. Tacou-lhe
um beijo na boca, um demorado beijo. Tempestade cerebral. Tremor de nervos.
Beijo com
furor. O corpo estremece parecia dissolver-se em seus braços.
III
Foge a fértil imaginação desse contador da
história qual o movimento das células, a energia dissipada e que forças teriam
sido desenvolvidas durante esse beijo. Qual o movimento das línguas?
Se tocaram?
Houve mordida nos lábios?
Impossível descrever com precisão o movimento
invisível diantino dos corpos que se tocam nesse beijo profundo. Deu-lhe um
beijo na boca e disse:
-Sente essa brisa, sente.
Depois do beijo, disse novamente:
-E agora?
-O que vamos fazer com isso?
Voltaram a se olhar a malícia começa a
transparecer em seus quatro olhinhos lascivos. No dia seguinte escreveu-lhe um
poema:
IV
A paixão
O amor
O tesão
Explode
em células ardentes
Contagia
o universo
Toma
conta do infinito
Manifesta
em dois corpos vulcânicos
Que se
perguntam:
-O que
vamos fazer com isso???
V
Agora deixa eu te contar o início da história:
Fuma o seu cigarro,
tenta, em vão
abrir uma porta
em sua vida vã.
Fuma o seu cigarro,
tenta, em vão
abrir uma porta
em sua vida vã.
Acende seu narguilé e fala das noites mal
dormidas regadas a álcool e ao sofrimento da vida.
No primeiro dia não viu nem um brilho
fulgurante que irradia o universo. Notou na verdade, uma estrela bem pequena,
dessas que quando apagam ninguém diz –Que pena!
Pareceu-lhe um brilhante sozinho que ninguém
olha para ele, com uma luz bem pequeninha que cabe na casa de um botão.
Isso comprova que a beleza é muito relativa e
que no final das contas todo mundo é os dois. É beleza e é feiura. Por uma
compreensão subjetiva de nossa mente e interesses muito particulares. Qualquer
pessoa, de tradicional modelo ou miss ao nosso vizinho da quebrada ou do
condomínio. Ninguém é bela e ninguém é feio a todo momento...é um processo em
que a beleza se faz feiura e vice-versa. Por convenções pré-estabelecidas,
preconceituosas, na sociedade. A beleza para uma população é fealdade para
outra e tudo isso é extremamente relativo.
MUSA
Musa da loucura
Musa da paixão
M`usa e abusa
Pois para todo sempre
Alguém deixará de ser
musa.
Como era bom ouvir-lhe falar. Fazia qualquer
assunto ficar interessante aquela maneira de pensar e falar sobre as coisas.
Dizia tudo de uma forma muito especial.
Tinha um esforço gigante. Atitude e potencial
para “mover montanhas”
O conhecimento dos segredos humano faz-lhe ter
atitudes que rapidamente atraem o mundo para si.
Ninguém conhece os segredos humanos senão não
seriam “segredos”.
Surge aí uma outra história romântica recheada de
poesias. Afinal a poesia é a máxima expressão do romance e quantos poemas
belíssimos foram produzidos a partir do amor?
VI
A PAIXÃO E A POESIA
Para a poesia
A paixão não é problema
A paixão não é problema
Mesmo que dê tudo
errado
Ainda assim
Ainda assim
Ela pode
Te deixar um poema!!!
Te deixar um poema!!!
Após essa explosão do amor a confiança na paixão se instala. O tempo, as
regras e convenções buscam engessar os sentimentos e a relação não permite mais
uma aproximação tão intima.
A distância passa a ser resguardada.
Sofrem por esse distanciamento e tem na poesia o único refúgio.
Preferiam que não se amassem.
ALMA
A minha alma
foi comida por você
engravidou de poesias
meses depois
o rebento
são esses versos
que te apresento.
foi comida por você
engravidou de poesias
meses depois
o rebento
são esses versos
que te apresento.
A alma dilacerada por um amor que faz da distância um
sofrer e o prazer passa a aflorar por caminhos não convencionais da escrita.
Pode-se discutir, muito bem, a relação entre o amor e
o desejo e entre o prazer e o gozo, mas não pode ser mais sábio que a
realidade.
O real é sempre mais complexo que o esquema teórico.
VII
PAIXÃOZINHA
Paixõezinhas
São aquelas que morrem cedo
Antes de crescerem
Deixam suas pegadas na arte e na poesia
E sempre depois dela vem uma outra
De tamanho indefinido.
A paixão se
mistura ao amor e esse se liga ao desejo e para o senso comum não é possível
distinguir amor, paixão e desejo.
Simplesmente
por palavras não se pode ser feliz.
Sentimentos
e palavras se entrecruzam tramando a historicidade e se retroalimentando.
XADREZ DA VIDA
Antes do xeque mate
A jogada mais difícil é comer a rainha
O peão não dispõe de
bispos, torres, cavalos... e muito menos do reluzente ouro que ornamenta a
coroa de um rei envaidecido.
Que lógica imbecil:
Comer a rainha,
A partida ainda nem começou.
Comer a rainha,
A partida ainda nem começou.
Comer a rainha num
tabuleiro cheio de cavalos e jegues psicológicos reais e irreais que a protegem
tornando-a inatacável?
No seu mundo careta e agonizante
o mais difícil é comer a rainha.
Mas qual seria a graça
dele?
Toda a complexidade do tabuleiro natural?
Qual o sentido da vida se ela não permitisse, um dia, que rainhas e peões andassem livremente?
Toda a complexidade do tabuleiro natural?
Qual o sentido da vida se ela não permitisse, um dia, que rainhas e peões andassem livremente?
Antes do xeque mate
A jogada mais difícil é comer a
rainha
No tabuleiro pré definido e viciado da vida.
No tabuleiro pré definido e viciado da vida.
Atenção!!!
Não seja comido pelos demônios,
que disputam, com ardor e sem cansaço, a grande partida do tabuleiro vital.
Em seu castelo imaginário.
FINAL
Imaginei
essa história. Vi nela uma intenção, um desejo. Contrasta com a outra, do real,
tão cheia de contradições. Ela precisa se transformar num fato consumado.
Preciso viver em paz.
Domingo
oito horas da manhã. Olha para um lado. Olha para o outro lado. Ninguém.
Tudo não
passou de um sonho manifesto em versos. Sonhos que não saem de sua cabeça.
Sonhos que
também não saiam de minha cabeça e agora vão-se embora no papel.
Ele com
ele, ela com ela, ele com ela, uma aos outros, outras ao outro e umas a
umas...amemo-nos, amem.
Sigam
navegando em seus barquinhos das ilusões, da realidade e das desilusões...
UM AMOR
Um amor, uma paixão
Desencontrados
Que coleciona nãos
Uma paixão no limbo
Entre a vida e a morte
Que boia no mundo
Sem norte
Se não inspirar um poema
Não vale mais a pena.
VIII
Nunca mais
a simplicidade e o arrebatamento do poema. Nunca mais poesias rimando dor com
amor. Agora estou pensando o que fazer com essa planta, Jauareté-Taíá. Suas
flores, seus frutos e tudo o mais que brotar da sua fertilidade. Misturar a
poesia com o conto. Descrever personagens perfeitos. No final somente o ponto.
E isso já
basta.
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