sábado, 2 de novembro de 2019

JAUARETÉ-TAIÁ



JAUARETÉ-TAIÁ
(Autor: José Soares)

Um magnifico dia de sol numa praia deserta o nativo se aproxima e me entrega uma flor. Ela veio da planta do amor Jauareté-Taiá na linguagem indígena. Ela tem o poder de fazer a pessoa sair por aí construindo poesias e escrevendo sobre sentimentos alheios. Você não a encontrará facilmente. Da flor brota o fruto que de repente pode muito bem vir em forma de poemas.

I

OLHOS E CACHOEIRAS

De seus olhos vertem cachoeiras
Estrelas e sonhos irreais
Por isso  escrevo 
Para que eu não me esqueça jamais

Procurei milhares de palavras no dicionário
Encontrei algumas
Que pudessem expressar esse momento
Começo a falar de nuvens e fumaças
Construir no firmamento o país dos sonhos
Onde vejo imagens confusas dos meus pesadelos

Partículas de substancias impalpáveis
Manifestas em cascatas d’água
Suspensas no ar
Irrompem a linha de defesa
Tornando imprevisíveis
A fantasia e a variedade da vida

De seus olhos vertem cachoeiras
Não sei se é real ou criação furtiva de minha imaginação iludida

            Mas eu vi

            Agora resta-me folego para mais algumas poucas palavras
Todo amor é excepcional
Aos sentidos de quem ama

Essa beleza vinha de uma força infinita que pulsava do seu íntimo. Longe de ser padronizada era especial. Uma beleza que mexia com o psicoplasma tornando a pessoa capaz de observar e absorver com maior intensidade as sensações, pensamentos e emoções além de produzir alterações profundas na percepção de quem a contemplasse. Seu encanto impulsionava o acesso a janelas da mente nunca antes imaginadas(...) junto a essa beleza até a eternidade parecia ter um fim tão rápido passava o tempo. Sua ausência fazia um minuto parecer o infinito(...)


II

Chegou... ficou comigo... foi embora. A felicidade nunca!
Tudo é muito rápido nessa história.
Envolve num abraço da saudade esvai-se a bruma da solidão. Meia noite. A lua iluminava o seu corpo inteiro. As estrelas pequeninas, pingos de prata, flores distintas de um jardim misterioso lá de cima, observando tudo. Atravessa a ponte. Tacou-lhe um beijo na boca, um demorado beijo. Tempestade cerebral. Tremor de nervos.
Beijo com furor. O corpo estremece parecia dissolver-se em seus braços.

III

Foge a fértil imaginação desse contador da história qual o movimento das células, a energia dissipada e que forças teriam sido desenvolvidas durante esse beijo. Qual o movimento das línguas?
Se tocaram?
Houve mordida nos lábios?
Impossível descrever com precisão o movimento invisível diantino dos corpos que se tocam nesse beijo profundo. Deu-lhe um beijo na boca e disse:
-Sente essa brisa, sente.
Depois do beijo, disse novamente:
-E agora?
-O que vamos fazer com isso?
Voltaram a se olhar a malícia começa a transparecer em seus quatro olhinhos lascivos. No dia seguinte escreveu-lhe um poema:

IV

A paixão
O amor
O tesão

Explode em células ardentes
Contagia o universo
Toma conta do infinito

Manifesta em dois corpos vulcânicos
Que se perguntam:
-O que vamos fazer com isso???

V

Agora deixa eu te contar o início da história:
Fuma o seu cigarro,

tenta, em vão
abrir uma porta
em sua vida vã.

Acende seu narguilé e fala das noites mal dormidas regadas a álcool e ao sofrimento da vida.
No primeiro dia não viu nem um brilho fulgurante que irradia o universo. Notou na verdade, uma estrela bem pequena, dessas que quando apagam ninguém diz –Que pena!
Pareceu-lhe um brilhante sozinho que ninguém olha para ele, com uma luz bem pequeninha que cabe na casa de um botão.
Isso comprova que a beleza é muito relativa e que no final das contas todo mundo é os dois. É beleza e é feiura. Por uma compreensão subjetiva de nossa mente e interesses muito particulares. Qualquer pessoa, de tradicional modelo ou miss ao nosso vizinho da quebrada ou do condomínio. Ninguém é bela e ninguém é feio a todo momento...é um processo em que a beleza se faz feiura e vice-versa. Por convenções pré-estabelecidas, preconceituosas, na sociedade. A beleza para uma população é fealdade para outra e tudo isso é extremamente relativo.

MUSA

Musa da loucura
Musa da paixão
M`usa e abusa
Pois para todo sempre
Alguém deixará de ser musa.

Como era bom ouvir-lhe falar. Fazia qualquer assunto ficar interessante aquela maneira de pensar e falar sobre as coisas.
Dizia tudo de uma forma muito especial.
Tinha um esforço gigante. Atitude e potencial para “mover montanhas”
O conhecimento dos segredos humano faz-lhe ter atitudes que rapidamente atraem o mundo para si.
Ninguém conhece os segredos humanos senão não seriam “segredos”.
Surge aí uma outra história romântica recheada de poesias. Afinal a poesia é a máxima expressão do romance e quantos poemas belíssimos foram produzidos a partir do amor?

VI

 A PAIXÃO E A POESIA 

Para a poesia
A paixão não é problema
Mesmo que dê tudo errado
Ainda assim
Ela pode
Te deixar um poema!!!

Após essa explosão do amor a confiança na paixão se instala. O tempo, as regras e convenções buscam engessar os sentimentos e a relação não permite mais uma aproximação tão intima.
A distância passa a ser resguardada.
Sofrem por esse distanciamento e tem na poesia o único refúgio.
Preferiam que não se amassem.

ALMA 

A minha alma
foi comida por você
engravidou de poesias
meses depois
o rebento
são esses versos
que te apresento.

A alma dilacerada por um amor que faz da distância um sofrer e o prazer passa a aflorar por caminhos não convencionais da escrita.
Pode-se discutir, muito bem, a relação entre o amor e o desejo e entre o prazer e o gozo, mas não pode ser mais sábio que a realidade.
O real é sempre mais complexo que o esquema teórico.

VII

PAIXÃOZINHA

Paixõezinhas
São aquelas que morrem cedo
Antes de crescerem
Deixam suas pegadas na arte e na poesia
E sempre depois dela vem uma outra
De tamanho indefinido.

A paixão se mistura ao amor e esse se liga ao desejo e para o senso comum não é possível distinguir amor, paixão e desejo.
Simplesmente por palavras não se pode ser feliz.
Sentimentos e palavras se entrecruzam tramando a historicidade e se retroalimentando.

XADREZ DA VIDA

            Antes do xeque mate
            A jogada mais difícil é comer a rainha
O peão não dispõe de bispos, torres, cavalos... e muito menos do reluzente ouro que ornamenta a coroa de um rei envaidecido.
Que lógica imbecil:
Comer a rainha,
A partida ainda nem começou.
Comer a rainha num tabuleiro cheio de cavalos e jegues psicológicos reais e irreais que a protegem tornando-a inatacável?
            No seu mundo careta e agonizante o mais difícil é comer a rainha.
Mas qual seria a graça dele?
Toda a complexidade do tabuleiro natural?
Qual o sentido da vida se ela não permitisse, um dia, que rainhas e peões andassem livremente?
            Antes do xeque mate
A jogada mais difícil é comer a rainha
No tabuleiro pré definido e viciado da vida.
           Atenção!!!
           Não seja comido pelos demônios, que disputam, com ardor e sem cansaço, a grande partida               do tabuleiro vital.
           Em seu castelo imaginário.

FINAL

Imaginei essa história. Vi nela uma intenção, um desejo. Contrasta com a outra, do real, tão cheia de contradições. Ela precisa se transformar num fato consumado. Preciso viver em paz.
Domingo oito horas da manhã. Olha para um lado. Olha para o outro lado. Ninguém.
Tudo não passou de um sonho manifesto em versos. Sonhos que não saem de sua cabeça.
Sonhos que também não saiam de minha cabeça e agora vão-se embora no papel.
Ele com ele, ela com ela, ele com ela, uma aos outros, outras ao outro e umas a umas...amemo-nos, amem.
Sigam navegando em seus barquinhos das ilusões, da realidade e das desilusões...

UM AMOR

Um amor, uma paixão
Desencontrados
Que coleciona nãos

Uma paixão no limbo
Entre a vida e a morte
Que boia no mundo
Sem norte

Se não inspirar um poema
Não vale mais a pena.

VIII

Nunca mais a simplicidade e o arrebatamento do poema. Nunca mais poesias rimando dor com amor. Agora estou pensando o que fazer com essa planta, Jauareté-Taíá. Suas flores, seus frutos e tudo o mais que brotar da sua fertilidade. Misturar a poesia com o conto. Descrever personagens perfeitos. No final somente o ponto.
E isso já basta.









Nenhum comentário:

Postar um comentário